A vaidade e o ego nos fazem realçar apenas fatos que exalam perfeição e conquistas, principalmente quando você cresce em um ambiente de doutrina religiosa. Só que nesta noite, fui sensibilizado a escrever sobre o outro lado, que nunca gostaria de colocar em palavras. Mas, antes vamos à um contexto histórico.
Toda a história passa por referências que fizeram parte da minha vida. Desde cedo, tive em meus pais uma referência; para ser mais exato, minha mãe é a mulher que abdicou de uma carreira em ascensão como enfermeira, para se tornar uma mãezona em tempo integral e uma grande parceira do meu Pai nas economias diárias, e principalmente na educação dos meus irmãos e minha.
No que diz respeito ao meu Pai, falo do homem, que aqui na terra foi e é, meu professor e melhor amigo; dele minhas lembranças sempre foram ligadas ao desejo de conhecer sobre tudo; por causa dele, meus irmãos e eu, mesmo não sendo ricos, crescemos em meio a muitas revistas e jornais.
Desde cedo fui introduzindo a leitura das escrituras, e no caso da minha mãe, sempre houve o incentivo para que nós decorássemos salmos. Então, foi desta maneira que a palavra de Deus foi introduzida em minha vida.
Passados alguns anos, me lembro bem da primeira ministração (na igreja) que tive a oportunidade de fazer, eu tinha entre 14 e 15 anos; desde aquele dia pregar a palavra de Deus foi uma constância em minha pré-adolescência, adolescência e início da vida adulta.
Tomei gosto por conhecer mais de Deus nas escrituras sagradas, e assumi como missão de vida falar de Cristo onde eu tivesse oportunidade.
O tempo passou, e por muitas vezes me achei forte e até no direito de julgar àqueles que ficavam no caminho. Desta maneira os anos foram se passando, até o dia em que eu descobri que.. A Graça não é templo.
Está certo que, esta descoberta, não aconteceu sem um grande trauma, não falo do AVCH que Deus me deu a graça de passar, e que me permite hoje ser visto como portador de uma recuperação milagrosa.
O trauma descrito diz respeito a um momento onde parece que minha vida “virou de cabeça para baixo”; me vi sozinho, apenas com o apoio da minha família, que por mais que tentasse… não conseguia me entregar o consolo que eu precisava. Nesse período eu só me lembrava de todos os trabalhos realizados na igreja; mesmo tendo certo reconhecimento da comunidade, parecia que ninguém se lembrava de mim.
Sabe o que é se ver abandonado por todos aqueles que estavam louvando a Deus ao seu lado? Ser esquecido por àqueles que deveriam ter o dom de pastor por estar a frente cooperando com os membros daquela família espiritual?
Pois é…
A questão aqui não é julgar nenhuma instituição ou pessoa, preciso contar minha história, pois, não acredito que seja o único que passou ou passará por um momento/trauma como este.
Neste período de solidão, mesmo com minha família tentando me levantar… descobri na bebida e em alguns “amigos”, alguns “escapes” que ao invés de me trazerem Paz, me traziam ainda mais dor; afinal, eles faziam uma espécie de efeito rebote espiritual, ou seja, com a mesma intensidade que trazia um sorriso, retornava com a perda de sono, choro e julgamentos feitos a luz do que sempre acreditei.
O tempo passou, e em meus sonhos… sempre me via tocando, louvando, pregando e falando em línguas estranhas (ação que para os cristãos pentecostais, representa consolo àqueles que falam).
Mesmo com a igreja a passos da minha casa, me faltava forças…
A história começa a mudar ao passar alguns dias em Peruíbe com minha família; nesta viagem fui praticamente obrigado pelo meu Pai a entrar de novo na igreja.
Não me esqueço daquele dia, eu estava com barba já cheia e desenhada, camisa Polo Branca, e calça deezer; me sentei atrás da orquestra, em uma igreja pequena que ninguém me conhecia.
Naquela noite fui encontrado pela profecia da palavra, e tive um reencontro com a Paz que eu buscava. Sem dúvidas, foi após aquele culto que eu tive uma noite de sono que não tinha há muitos meses. Voltei a me sentir vivo, e com a certeza de que a Graça de Deus, se mantinha viva em mim, mesmo eu sendo um homem falho.
O ponto central deste artigo, é que após este reencontro com a visita do espírito santo, minha vida foi reconstruída. Ao voltar para minha cidade, tive o acolhimento que precisava, da igreja que cresci e que frequento até hoje, foi um verdadeiro reencontro.
Desde então, tudo que eu não esperava viver, Deus está me dando a oportunidade de viver, no que hoje eu chamo de “plenitude da graça”.
Deus me deu a oportunidade de saber, que não é sobre como você está, e sim… como ele te quer colocar ou qual o plano dele para sua vida.
Hoje minha pregação mudou, pois, descobri o que é: “fardo leve e jugo suave”; descobri que a Graça de Deus é rica em benignidade.
Apesar de mesmo antes de aprender a ler, ter recitado o Salmos 117; hoje sei o que é louvar ao Senhor, porque Ele é bom, e sua benignidade dura para sempre.
Minha felicidade é tão grande neste meu novo momento, que meu desejo seria anunciar à todos vocês que:
“Não importa a maneira que você está neste momento, te chamo a se juntar àqueles que:
- Escolheram a cura ao invés de remédios;
- Escolheram o que não se explica em detrimento da razão fria;
- Escolheram o amor ao invés do juízo;
- Escolheram a Graça que nasceu na morte e ressurreição do nosso Senhor e salvador Jesus Cristo”.
Hoje, até a saudação que dou é diferente, pois, ao falar: “A Paz de Deus”, estou profetizando, uma Paz que o mundo nunca poderá dar.
“Não há dinheiro, riqueza, ou qualquer outra coisa perecível, que represente um pouquinho do que é a verdadeira Paz que está em Cristo Jesus, nosso Salvador.”
Quem prega, que ao obedecer uma doutrina você terá uma vida sem obstáculos, está equivocado, afinal, o próprio Senhor Jesus disse:
“Neste mundo sofrereis aflições; mas tende fé e coragem! Eu venci o mundo.” (João 16:30)
Além deste verso, quero fechar este artigo, com a lembrança do Apóstolo Paulo, quando nos exorta a glorificar a Deus em nossas tribulações, pois elas produzem experiência, paciência e esperança.
Não vejo como uma vergonha expor uma tribulação que passei, mas como uma oportunidade para que pessoas que estão passando por momentos similares, possam ter um testemunho que alimente sua fé em Deus, pois, é a partir Dele que é possível vencer todas as tribulações que aparecem em nossa vida.
No momento que vivenciei, não faltaram julgamentos e para muitos eu nunca mais seria o mesmo. No entanto, hoje posso dizer com toda a certeza… A história do filho pródigo depois que voltou aos braços do seu Pai, foi com certeza mais bonita do que antes, pois, só se dá valor a uma arma, quando diante de uma guerra nos vemos desarmados. A arma do crente é a palavra de Deus, que se manifesta em nós por meio do espírito santo, e sob esta arma, não há nenhum mal, fraqueza, pecado… que se manterá de pé.
“Eu vos afirmo que, da mesma maneira, haverá muito mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não carecem de arrependimento” (Lucas 15:07)



