Por Thalita Nunes
NA ESTREIA DA COLUNA HORA DA THATA...é dia de falar sobre rock, rebeldia e empoderamento feminino, e o tema é o movimento Riot Grrrl, que nos anos 90 deu voz às mulheres no punk rock.
O gênero punk surgiu lá na década de 70 com o intuito de contrariar as normas e padrões já estabelecidos socialmente, tanto por meio de suas letras críticas, como por sua melodia explosiva e raivosa. Com o passar dos anos, o movimento também acolheu outras causas em sua luta, sempre buscando representar aqueles que não são bem vistos pela sociedade.
Foi por meio do estilo punk que surgiu o movimento Riot Grrrl, iniciado em 1990 em Washington. A meta era mostrar para o mundo que as garotas possuem um lugar na sociedade e merecem ser ouvidas, além de conceder a elas protagonismo no mundo musical. O conteúdo referente a liberdade e independência sempre esteve presente nas canções. Além disso, foi o espaço encontrado pelas mulheres para denunciar os abusos sofridos dentro e fora do palco, além de discutir temas como autopreservação, assédio, consciência e a importância do empoderamento feminino.
Mas de fato, a origem desse termo nasceu por meio da Allison Wolfe, uma cantora, compositora, escritora e atualmente podcaster, que teve a ideia de produzir uma zine (um tipo de revista curta e caseira, feitas a partir de colagens e muita criatividade) feminista, chamado Riot Grrrl, onde demonstrava sua insatisfação com uns dos dogmas mais conhecidos do mundo do rock: garotas não sabem tocar tão bem quantos os homens, e a única imagem exposta da mulher no cenário do rock era a da fã histérica.
Até a década de 90, o universo punk ainda era dominado por homens e, segundo Piero Scaruff, autor do “A History Of Rock And Dance Music”, as garotas eram excluídas em diversas áreas consideradas exclusivamente masculinas, como ele mesmo ressalta: “Seja nas gangues de rua, seja o futebol americano. O movimento, então, mudou o cenário sociopolítico do punk, colocando o ‘fator mulher’ na equação”. E a resposta a esse mundo dominado pelos homens veio de forma rápida e eficiente, e o mais importante, não por meio da violência, e sim da arte.
O Riot Grrrl, teve o seu “boom” através de bandas femininas como Bikini Kill, Bratmobile, L7, Huggy Bear e Team Dresch. Contudo, o maior destaque é a Kathleen Hanna, vocalista do Bikini Kill, outra precursora do movimento. Criticar a superioridade masculina, denunciar abusos e a exploração da mídia, além de alertar as mulheres sobre seus direitos e incentivá-las a reivindicá-los, eram os principais objetivos da discografia da banda. Veja a seguir o trecho de uma de suas músicas chamada Double Dare Ya (Te desafio duas vezes):
“Ei mana
Eu tenho uma proposta que é algo do tipo
Te desafio a fazer o que você quer
Te desafio a ser quem você quer
Te desafio a chorar muito alto
Você é uma garota grande agora
Você não tem razões pra não lutar
Você tem que saber o que eles são
Para poder se levantar por seus direitos
Direitos? Direitos?
Você tem direitos!”
A banda também produziu os álbuns The First Two Records, The Singles e Reject All American, além de coletâneas do Kill Rock Stars e outros independentes.
Dominatrix
Trazendo para o Brasil, a banda Dominatrix fundada em 95, representou o rock feminista por meio da vocalista e guitarrista Elisa Gargiulo. Elas foram corajosas e aguentaram todas as críticas recebidas pelo fato de lutarem contra o padrão vigente na época, e por mostrarem através de suas letras a ignorância trazida pelo machismo.
O movimento Riot Grrrl proporcionou, em parte, uma oportunidade para lutar pelos direitos das mulheres. Não se tratava apenas de “fazer barulho”, mas sim de manifestos que expunham as realidades enfrentadas pelas garotas, fortalecendo-as por meio da arte.
Por fim, é importante ressaltar que os homens também participaram e apoiaram essa causa, lutando ao lado das mulheres e mostrando sua indignação. Em entrevista ao Estadão, a professora e ensaísta Camille Paglia, afirma que o feminismo não pode ser lugar de mulheres que nutrem ódio pelos homens. “Então, para mim, a grande resposta é que o feminismo precisa parar de atacar o homem. Há homens que se comportaram mal, eu acho que eles são uma minoria. Eu sou uma feminista da equidade, eu quero que o mundo público seja estruturado de uma forma que permita às mulheres avançarem igual aos homens nos campos profissional e político. É sobre isso que o feminismo deveria tratar “.